Homenagem do escritor e ator Jorge Miguel
Marinho às Mães, na Premiação Mães de
Sucesso 2011
MÃE E MEDULA: DUAS PALAVRAS-IRMÃS
EU INICIO UMAS BREVES PALAVRAS DIZENDO UMA
FELIZ E SENSÍVEL FRASE SOBRE “O ATO DE SER
MÃE”, DE UM AUTOR ANÔNIMO QUE, TALVEZ POR
ENTENDER A FORÇA DA PALAVRA MÃE, RESOLVEU
GUARDAR E OMITIR SEU NOME:
“DEUS NÃO PODIA ESTAR EM TODOS OS LUGARES AO
MESMO TEMPO E POR ISSO CRIOU AS MÃES”
E É VERDADE MESMO...
EU SOU ESCRITOR E NO MEU TRABALHO DE
ESCRITOR, QUANDO EU PENSO NA PALAVRA MÃE, O
QUE ME VEM À CABEÇA É O SENTIDO DE PRESENÇA
ABSOLUTA, DE AMOR E DE MATRIZ DO AMOR PORQUE
AMOR DE MÃE É AFETO INCONDICIONAL, É AMOR
POR PURÍSSIMA NECESSIDADE E VOCAÇÃO PARA
AMAR.
AMOR DE MÃE TEM O
SENTIDO TAMBÉM DE “SER AMOROSO” PORQUE É
ALGUÉM QUE AMA E NÃO CONSEGUE VIVER OUTRA
EXPERIÊNCIA SEM A ENSEADA E A NATUREZA DE
AMAR.
POR ESSA RAZÃO, EU ESTOU MUITO FELIZ HOJE
POR ESTAR AQUI E QUERO COMEMORAR O DIA E A
HORA DAS MÃES NESSA NOITE QUE COROA E
RECONHECE POR DIREITO DELAS O INESTIMÁVEL
PAPEL DE ALGUMAS ENTRE TANTAS OUTRAS MÃES,
COM O PRÊMIO “MÃES DE SUCESSO”, QUE DIZ TUDO
NO NOME. E QUERO ME COMEMORAR TAMBÉM POR TER
A FELICIDADE DE CONHECER E DE FAZER PARTE DE
UM GESTO TÃO GENEROSO E DE UMA AÇÃO COLETIVA
TÃO HUMANAMENTE HUMANA EMPREENDIDA PELA
MINHA AMIGA GUIDA, A MARGARIDA MARIA DE
FINIS BARROS, QUE É O SITE “MEDULA ÓSSEA –
DOAR EM VIDA SALVA”, TENDO COMO NORTE A
DIVULGAÇÃO, O CONVITE, A INFORMAÇÃO E O
APELO TÃO URGENTE E NECESSÁRIO À DOAÇÃO DE
MEDULA ÓSSEA.
É INTERESSANTE OU
ACASO DO AMOR SABER QUE MÃE E MEDULA TÊM A
MESMA FORÇA E SENTIDO ETIMOLÓGICO: AS DUAS
PALAVRAS, MÃE E MEDULA, SUGEREM OU
SIGNIFICAM “ORIGEM, ESSÊNCIA, ÂMAGO, RAIZ,
BERÇO, ALGUÉM QUE DÁ A VIDA A UM OUTRO
ALGUÉM OU FAZ ALGUÉM VIVER...”
QUANDO SE PENSA NAS
PALAVRAS MÃE E MEDULA NATURALMENTE VEM
TAMBÉM A IDÉIA DE VIDA OU DA EXPERIÊNCIA
IMPERDÍVEL DE VIVER E TAMBÉM O SENTIDO DE
MORTE QUE É UMA CONSEQUÊNCIA OU A CAMINHADA
NATURAL DA PRÓPRIA VIDA, ASSUNTO MEIO
PROIBIDO, INTOCADO E MUITO POUCO VERBALIZADO
EM NOSSA CULTURA QUE SUPER-VALORIZA O
DESEMPENHO, A DINÂMICA, A SAÚDE ESTÉTICA OU
ARTIFICIOSA, ENFIM AS MAIS DIVERSAS FORMAS
DE PRODUÇÃO, POR VEZES E NÃO RARAMENTE TÃO
DESUMANIZADAS.
POR ISSO EU QUERO
COMEMORAR HOJE O DIA DA “MÃE-MEDULA E DA
MEDULA-MÃE” COM TRÊS BREVES TEXTOS QUE FALAM
DO AMOR QUE SALVA, DA MEMÓRIA E DA ARTE QUE
SALVAM E DA DELICADEZA DE SE CUIDAR DE
ALGUÉM QUE SALVA A VIDA DO OUTRO E A NOSSA
PRÓPRIA VIDA TAMBÉM...
. PRIMEIRO UM POEMA
QUE EU RECRIEI, HÁ MUITOS ANOS, DE UM
PERSONAGEM DE UM FILME E FALA DO AMOR
ETERNO, AINDA QUE PROVISÓRIO, COMO MOTIVAÇÃO
PARA A VIDA:
“A VIDA QUE TENHO É TUDO O QUE TENHO
E A VIDA QUE TENHO, O AMOR QUE TENHO
É TEU TEU SOMENTE TEU.
UM DIA MORREREI E SERÁ O DESCANSO ETERNO
MAS A MORTE SERÁ MERA PAUSA,
POIS OS DIAS EM QUE PASSAREI DORMINDO
SOB A RELVA VERDE
SERÃO TEUS, TEUS SOMENTE TEUS.”
. AGORA UM POEMA DO
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, “AUSÊNCIA”, QUE
FALA DA MEMÓRIA DAS COISAS E DA ARTE COMO
VIVÊNCIAS QUE VENCEM A MORTE E SE OFERECEM
TAMBÉM COMO ESSENCIAL MOTIVAÇÃO PARA A
EXPERIÊNCIA ÚNICA QUE É VIVER:
AUSÊNCIA
“POR MUITO TEMPO PENSEI QUE A AUSÊNCIA É
FALTA
E LASTIMA, IGNORANTE, A FALTA.
HOJE NÃO A LASTIMO.
NÃO HÁ FALTA NA AUSÊNCIA.
A AUSÊNCIA É UM ESTAR EM MIM.
E SINTO-A, BRANCA, TÃO APEGADA, ACONCHEGADA
NOS MEUS BRAÇOS,
QUE RIO E DANÇO E INVENTO EXCLAMAÇÕES
ALEGRES,
PORQUE A AUSÊNCIA, ESSA AUSÊNCIA ASSIMILADA
NINGUÉM A ROUBA MAIS DE MIM.”
. E POR FIM UM BREVE
TEXTO QUE ESCREVI E QUER FALAR DA DELICADEZA
DE SE CUIDAR DE ALGUÉM QUE É O QUE AS MÃES
MAIS FAZEM E O QUE TODOS AQUELES QUE DOAM OU
TRABALHAM PELA DOAÇÃO DA MEDULA ÓSSEA FAZEM
TAMBÉM:
Que delicadeza cuidar de alguém...
São muitos os gestos de amor. Mas “cuidar
das pessoas ou ser cuidado por elas” é o
gesto mais generoso em estado de comunhão.
E é dádiva também porque, quando cuidamos de
alguém com zelo, atenção, diligência,
silêncio e cautela, este cuidado volta na
mesma hora, naquele exato momento, para nós.
Ficamos gratos de sentir, na gratidão do
outro, a força da nossa porção de doação, de
ver como somos urgentes e necessários para
abreviar a dor dos seres amados, dos amigos,
dos semelhantes, dos diferentes, dos
humildes, dos loucos, dos atormentados, dos
rivais, dos desconhecidos que, no fundo,
vivem a dor que é nossa também.
Ficamos menos doídos e mais solidários,
suportamos ou vivemos melhor a alegria boa e
ao mesmo tempo o trânsito doloroso que é
viver.
“Cuidar das pessoas ou ser cuidado por elas”
é tornar a dor individual experiência
coletiva, é – no sentido melhor de existir –
apenas se deixar ser.
Clarice Lispector, escritora que faz da
literatura puríssimo gesto de doação,
concorda conosco. Ela nos define a
delicadeza de cuidar de alguém com palavras
alegres, revelando nas palavras, para ela e
para nós, esses cuidados tão humanamente
solidários que nos fazem existir e nos
tornam mais humanos, mais solidários, mais
reais:
“Dar a mão a alguém é tudo o que espero da
alegria”. C.L.
Jorge Miguel Marinho
Jorge Miguel Marinho é
professor universitário de Literatura
Brasileira, roteirista, ator e escritor de
vários livros, entre eles, "Lis no peito -
um livro que pede perdão", Editora Biruta",
prêmio Jabuti, "Te dou a lua amanhã",
Editora Ática, prêmio Jabuti, e "Na curva
das emoções", Editora Biruta, prêmio APCA.
Ele recebeu o título de "A voz literária de
Pinheiros", seu bairro do coração, e diz
que tem muitos amigos, sua graça maior.
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